Deputada federal pelo estado de São Paulo, Rosângela Moro foi eleita em 2022 pelo União Brasil com 217 mil votos. Formada em Direito e com especialização em Direito Tributário, ela construiu uma carreira sólida como advogada antes de ingressar na política.
Rosângela completa 50 anos nessa terça-feira (28) e, casada com o senador Sergio Moro (União Brasil) há 25, acompanhou toda a trajetória profissional e política do ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL).
Nas vésperas do julgamento pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) das ações movidas pelo PL e pela Federação Brasil da Esperança (PT-PV-PCdoB) contra o senador Sergio Moro, Rosângela Moro mudou o domicílio eleitoral para o Paraná, levantando a suspeita de se candidatar às eleições suplementares caso o mandato do marido fosse cassado.
A transferência motivou uma ação do PT que acusou-a de fraude ao sistema eleitoral por ter sido eleita por São Paulo, e não pelo Paraná. Rosângela Moro foi, no entanto, absolvida pela Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná, que arquivou o recurso.
Dias após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela absolvição de Sergio Moro, Rosângela Moro conversou com a Gazeta do Povo sobre o julgamento, os planos políticos da família e o futuro da operação Lava-Jato, demonstrando esperança no país: “Não podemos desistir do Brasil”, disse ela.
Como a senhora viu o julgamento do senador Sergio Moro, com absolvição por unanimidade?
Esse julgamento representa praticamente uma terceira eleição do senador Sergio Moro. A primeira foi um enfrentamento quando ele mudou de domicílio, a segunda foi a eleição propriamente dita, com quase 2 milhões de votos, e agora finalmente sacramentou o resultado da eleição.
Acompanhamos todo esse julgamento com muita serenidade. A verdade, os fatos, as provas, a lei, o direito estavam do nosso lado. Claro que preferiríamos não ter tido que responder a esse e aos demais processos, mas aconteceu e acompanhamos com muita serenidade e confiança.
Como a senhora se sentiu durante o julgamento? Tivemos o caso do Deltan [Dallagnol] que teve um resultado em esfera regional e outro em esfera nacional. Para todos nós, os resultados eram muito incertos.
Tínhamos muita segurança porque acompanhamos toda a pré-campanha. Tanto que, quando veio a decisão do tribunal do Paraná, o voto do relator foi muito profundo, robusto, analisou todas as argumentações com cuidado na análise das provas e dos fatos. Diante do julgamento do Tribunal Regional, ficamos ainda mais confiantes que não poderíamos esperar outra resposta do TSE.
O caso do Deltan não guarda similaridade com o do senador Sergio Moro. Desde a decisão do Tribunal do Paraná, ficou muito claro que não houve corrupção, que não houve caixa dois. O próprio Ministério Público do Paraná restringiu a discordância à parte controversa dos gastos da pré-campanha, que foram feitos absolutamente dentro dos critérios legais existentes.
Claro que somos seres humanos e um pouco de ansiedade sempre há, mas estávamos realmente muito confiantes e estamos muito felizes com o resultado. Falo por ele, por mim, pela nossa família e principalmente pelos quase dois milhões de paranaenses que votaram nele.
A senhora acredita que essa guerra acabou ou haverá novos capítulos dessa história?
Agora está consolidada a decisão. Lamento que os atores ajuizaram essa demanda na corte eleitoral por inconformismo, porque perderam a eleição e o Sergio Moro ganhou. Infelizmente, nessa tentativa de tirar a legitimidade da eleição dele, até desrespeitaram os eleitores do Paraná.
Quem a senhora acha que estava inconformado com esse resultado das eleições? Vemos o PL, que entrou com a ação, de certa forma dividido.
As lideranças do PL no Estado do Paraná, como o Paulo Martins, tinham interesse pessoal nessa decisão. Ele ficou em segundo lugar nas eleições, então tinha interesse em tirar o senador no “tapetão” e usou a ação para isso, na perspectiva dele poder ser eleito senador numa eleição suplementar que não vai ocorrer.
Vi que o ex-presidente Bolsonaro se manifestou pelo desejo de não recorrer e, claro, ficamos gratos a isso. Mas o fato é que houve o recurso pelo interesse das lideranças estaduais, porque ele era um candidato.
Como é hoje a sua relação com o ex-presidente Bolsonaro e com Valdemar Costa Neto?
Eu não tenho relação com o presidente Bolsonaro e não tenho relação com o presidente Valdemar Costa Neto. Nunca sequer conversei com o presidente Valdemar, não sou próxima. E a última vez que tive contato com o presidente Bolsonaro foi quando Sergio ainda era ministro e nós fomos visitá-lo em uma das cirurgias que ele fez em São Paulo. Então, já faz bastante tempo.
Como a senhora vê o futuro político da família com a absolvição de Sergio Moro pelo TSE?
Estamos no segundo ano dos nossos mandatos e vamos honrar o compromisso assumido, os eleitores depositaram em nós essa confiança. Meu foco é continuar o trabalho na Câmara dos Deputados até o final do mandato, creio que o senador também. Ele agora tem seis anos e mais alguns meses para desempenhar suas funções no Senado Federal, especialmente nas pautas de enfrentamento à corrupção e segurança pública e, obviamente, em defesa dos interesses do Estado do Paraná.
Como a senhora vê a repercussão da transferência do domicílio eleitoral ao Paraná, e por que essa reação dos opositores?
Justamente porque são opositores. Não sou a única pessoa que transferiu o domicílio eleitoral, é um fato absolutamente normal e corriqueiro. Tentaram fazer disso um acontecimento justamente nesse jogo político de tentar desmerecer e descredibilizar. O Sergio não conseguiu naquele momento ser candidato pelo Estado de São Paulo, então ele mudou o título para cá [para o Paraná], então faz mais sentido para mim ficar perto dele e da minha família. Eu mudei o título unicamente por essa razão, mas como se refere à família Moro, causa algum alvoroço. Mas vejo com naturalidade.
Durante o julgamento do senador Sergio Moro, foram feitos questionamentos sobre a necessidade de segurança e escolta para o senador e sua família na campanha, durante as ameaças do PCC. Como a senhora avalia esses questionamentos?
Esses questionamentos, como o próprio ministro Alexandre [de Moraes] falou, são no mínimo perversos, porque é um país que vive numa polarização. O Sergio já tinha, como Ministro da Justiça, isolado grandes traficantes, membros do PCC e dessas organizações. Havia sempre, desde então, o perigo com a proteção. Todo mundo viu também o plano intencional do PCC que alugou um imóvel perto da nossa casa em Curitiba com a intenção de executar o senador. As investigações mostraram que havia uma quantidade de explosivos nesse imóvel capaz de derrubar um prédio inteiro. Veja a dimensão que isso tomou.
O gasto com segurança pessoal na pré-campanha não é só do senador Sergio Moro, muitos outros pré-candidatos também precisam fazer uso de alguma espécie de segurança. É perverso computar esses gastos como de pré-campanha, uma vez que não há essa restrição ou vedação na legislação. Se assim houvesse, teria-se que adotar outro caminho, como pedir uma autorização judicial em casos especiais. Os argumentos eram infundados, mas esse eu reputo como perverso.
Faz 10 anos que a gente viveu a operação Lava-Jato. Desde que ela começou, em 2014, não se vê mais condenação e processo de corrupção, como se a corrupção não existisse. Nós lamentamos porque queremos ver o dinheiro público bem empregado. As necessidades são muitas, já não tem dinheiro suficiente para tudo e com a corrupção falta muita coisa, falta muita alocação de recursos corretos. Isso é muito triste.
A gente também se entristece com a impunidade porque nós, como sociedade, não merecemos ver a impunidade como regra. A operação Lava-Jato deixou como legado esse sentimento. Fizeram recentemente uma pesquisa sobre quem acha os resultados da operação Lava-Jato corretos. As pessoas veem o legado, a improbidade, o correto uso do dinheiro público, a lei igual para todo mundo.
Bilhões foram devolvidos. De onde veio esse dinheiro se não da corrupção? Tiveram delações, confissões. Muitos foram presos, muitos também não foram presos, até por decisão de primeira instância. Apontam muito o dedo para o Sergio dizendo que ele condenava todo mundo, mas ele absolveu muita gente por falta de prova.
Vejo com muita tristeza. Não é uma questão de criminalizar a política, é uma questão de que a política, naqueles casos e com aquelas pessoas, mostrou-se criminosa. Estamos falando de anulação, e não de descondenação. Existiu, o dinheiro foi devolvido, o triplex está lá, o sítio está lá, não tem como fechar os olhos para isso.
Como reverter esse jogo?
Daqui para frente, não podemos desistir do Brasil. Este governo não está preocupado com a pauta da anticorrupção. Nesse governo, ainda que não se possa avançar com pautas propositivas de enfrentamento à corrupção, podemos avançar para não deixar retroceder a normativa, mitigar prejuízos naquilo que é possível. Se não podemos avançar no combate propositivamente, temos obrigação de tentar pôr freio no que é possível.
Eu digo que esse governo não se mostra preocupado com a pauta da corrupção porque já propôs, bem no início, mudanças na lei das estatais, que é um marco legal importante para garantir a independência, tirar as indicações políticas. É um governo que vem com nomeações dos amigos, dos compadres, dos companheiros. É um governo com muitos ministérios, interventor ao máximo, que está vindo para taxar, uma ânsia arrecadatória muito grande. É um governo que não se preocupa em cortar despesa, equilibrar orçamento, jogou no lixo o arcabouço fiscal.
No parlamento, na oposição, mesmo infelizmente não sendo a maioria, conseguimos segurar algumas coisas e mostrar uma derrota para o governo. Estamos trabalhando arduamente para não deixar passar nada que cause um retrocesso nos alcances que tivemos até aqui como sociedade. Se não conseguimos avançar propositivamente com leis que enrijeçam o combate e o controle à corrupção, desincentivando-a, temos que pelo menos tentar minimizar outros avanços por meio da legislação e da atuação parlamentar.